Tá uma merda, mas fui eu que fiz!

2 de novembro de 2016 § 2 Comentários

Caramba, nem tô acreditando que esse dia finalmente chegou! Depois de aproximadamente um ano e meio, finalmente terminei a história que vinha ocupando minha cabeça.

Então, é assim. Se eu estou te mandando o link desse post diretamente, no dia 02 de novembro de 2016, isso quer dizer muitas coisas.

A primeira delas é que, parabéns, eu te considero uma pessoa muitíssimo importante na minha vida e me sinto confortável o suficiente para me expor desse jeito para você. Own, obrigada por existir, amigue. Eu não teria chegado até aqui sem você.

A segunda coisa é que é bem possível que você tenha me ouvido falar muito dessa  ~misteriosa história~ nos últimos meses, e que a cada nova cobrança sua eu tenha dito “tô quase terminando” e isso deve ter se repetido infinitamente (sabe como é, né, não vamos botar meta, mas quando alcançarmos a meta, a gente dobra a meta, haha). Mas agora é pra valer, realmente terminei!!!

Então é isso. Eu tenho um carinho imenso por essa história e por esses personagens, basicamente porque tem MUITO de mim nela, e foi a primeira vez que me propus a escrever alguma coisa relativamente mais longa, com um começo, um meio e um fim.

Cada personagem tem um pedacinho meu e também com certeza tem algum pedacinho seu, pessoa para quem enviei o link deste post no dia 02 de novembro de 2016. Fora as mil referências a todo o tipo de cultura pop que eu consumo e amo. (Declaro aberta a temporada de caça a referências a The Wombats na história, aeee! Quem achar cinco referências ganhar uma caixa de bombons, compromisso público! haha).

E é uma história sobre um pouco das coisas que eu acredito, um pouco do que eu aprendi ao longo dos meus míseros 25 anos de vida. É uma história que eu queria muito muito muito muito muito mostrar para  a minha mãe, mas não vai rolar por motivos de vergonha.

Construir os protagonistas foi particularmente especial porque, de alguma forma, eles também me mudaram um pouco, me fizeram me sentir um pouco mais, não sei, poderosa.

E todo o processo de escrever essa história foi muito intenso. Algumas noites em claro, uma ou outra crise de choro, mil e uma mudanças no enredo, milhares de crises de insegurança. A sensação de que eu não ia terminar isso nunca.

Mas terminei. E, cara, eu tô tão feliz com isso. Primeiro porque eu estipulei esse objetivo para esse ano e cumpri, mesmo com um atraso monstro. Segundo porque eu vi que, cara, eu curto muito escrever. Ainda tenho muita coisa para aprender, muita mesmo. Preciso estudar mais, ler mais, praticar mais, viver mais.

Mas só a sensaçãozinha de ter terminado essa etapa já é extremamente gratificante.

E é gratificante porque eu cheguei mais ou menos aonde eu queria chegar com a história. Eu sei que está longe de ser uma coisa realmente boa, mas eu tô tranquila porque sei que, com o repertório que eu tenho hoje, que é bem fraco, percebi isso, eu consegui fazer o melhor que eu podia. A Ana de 02 de novembro de 2016 não poderia fazer nada melhor do que o que saiu.

Então, assim, tá uma merda, mas fui eu que fiz e é isso o que importa.

Essa ainda não é a versão 100% da história, porque com certeza vocês vão achar errinhos na história que passaram desapercebidos. E, por favor, quando isso acontecer, me avisem que eu corrigirei ASAP!

E, por favor, não tenham medo de me criticar! Desde que o façam com jeitinho. haha

Vocês que estão recebendo o link no dia 02 de novembro de 2016 sabem o quanto eu sou levemente frustrada com a minha carreira oficial e o quanto eu gosto e tenho vontade de escrever e me aprimorar. O quanto escrever é a coisa que eu mais gosto de fazer na minha vida.

Então, por favor, sejam sinceros, mas também não se esqueçam de ser gentis. haha

Cara, eu acho que era isso o que eu tinha para dizer! Espero que curtam a leitura, que seja divertido acima de tudo.

O link é esse aqui, ó: Como devia estar

(Sim, a história é tão cheia de referências sobre mim que o nome é o de uma música do Capital Inicial que eu ouvia na adolescência, fazer o quê? haha)

E, sei lá, se vocês acharem ruim demais (ou bom demais, vai saber, né?) a ponto de quererem mostrar para outra pessoa, por favor, falem comigo antes! Eu não tenho nenhum problema com isso, mas por enquanto ainda é muito pessoal (depois dos reviews de vocês vou botar a cara a tapa e postar no wattpad para expor minha história para o mundo), então eu queria ter um mínimo controle sobre quem está lendo.

Agora, que acabou, vai vir o vazio de não conviver mais diariamente com meus personagens tão queridos, a sensação de estar sem rumo depois do dever cumprido.

Mas a vida é assim, né? Vou dar uma descansada agora, cuidar da minha vida… E quem sabe mais para a frente não resolvo tentar escrever alguma outra coisa, não é mesmo?

 

Muito obrigada por tudo, amigos, amo vocês! ❤

 

 

Allons-y

22 de maio de 2016 § Deixe um comentário

É a primeira vez que posto alguma coisa não-inédita aqui. Mas como postei esse texto originalmente numa rede social não muito popular, e tenho um carinho muito grande por ele, resolvi quebrar meu pacto comigo mesma de só postar coisas originais neste blog.

 

Chovia muito naquela manhã. Léo chegou ao ponto de ônibus com a calça e os tênis encharcados, sem deixar de se perguntar por um segundo sequer se realmente deveria ter saído da cama naquela manhã. Já dentro do ônibus, com a cabeça apoiada na janela e os fones enterrados nos ouvidos, só abria os olhos quando o player do celular tocava algum jazz e precisava trocar de música. Há cinco dias, ele tinha descoberto que Alice se mudaria para a Austrália. Há quatro dias, ela tinha embarcado no avião que a levara para o outro lado do planeta sem previsão de retorno.
Era difícil perdoá-la por ter partido desse jeito. Léo sabia que ela estava sofrendo muito desde o término do namoro com Edu, mas essa fuga radical para tão longe não parecia a melhor decisão a ser tomada. Além disso, não era justo que ela simplesmente deixasse tudo para trás, que ela deixasse o melhor e único amigo para trás.
Desceu do ônibus um ponto antes. Precisava caminhar um pouco, mesmo debaixo de chuva. Era o primeiro dia de aula do último ano do ensino médio, e ele sabia que só tinha chegado psicologicamente bem até ali por causa de Alice. Adolescentes podem ser incrivelmente cruéis quando se é um rapaz que não pega ninguém, usa óculos fundos-de-garrafa, é o queridinho dos professores, tem dificuldades com esportes e vive com livros de ficção científica e fantasia nas mãos.
Alice tinha um grande coração e sempre foi muito boa em não se importar com o que os outros diziam e em fazer tudo o que tivesse vontade. Também tinha muita curiosidade por ficção científica, o que acabou fazendo com que os dois se tornassem grandes amigos.
E agora ela fazia muita falta. Léo se sentia como se tivesse sido beijado por um dementador. Toda sua felicidade havia sido levada embora, só conseguia sentir um grande vazio no peito.
Conseguiu chegar ao colégio antes de a aula começar e aproveitou para se sentar na última fileira de carteiras, do lado da janela que dava para a quadra. Ficou assistindo a chuva cair, mentalmente satisfeito ao ver alguns garotos do seu ano serem expulsos da quadra pela inspetora, que não admitia jogos de futebol em dias de chuva.
Foi só quando o sinal finalmente tocou e a sala de aula começou a se encher de seus colegas agitados e barulhentos que Léo percebeu um aluno novo sentado na carteira ao lado da sua.
O novato estava bastante concentrado escrevendo alguma coisa num caderno de brochura surrado. Não viu quando um grupo de alunos, sentados do outro lado da sala, começou a rir, disfarçadamente, do seu jeito, do seu cabelo ou do seu peso. Léo não conseguiu identificar porque o garoto novo estava sendo alvo de zoação, mas sabia por experiência própria que tinha muito material para os valentões da sala ali.
Alice com certeza saberia o que fazer naquela situação, e lembrar dela fez com que Léo perdesse qualquer vontade de tentar intervir. De qualquer jeito, o aluno novo não tinha percebido nada e o professor de física logo entrou na sala, o que fez com que todos se calassem.
A primeira aula do ano seria uma revisão sobre conteúdos dos primeiros anos do ensino médio, conceitos básicos de mecânica, leis de Newton, lei de gravitação universal…
– Vamos lá, galera, quem me fala um planeta pra gente descobrir a aceleração da gravidade?
O professor mal tinha acabado de fazer a pergunta, Léo e o aluno novo disseram ao mesmo tempo, em voz baixa:
– Raxacoricofallapatorius…
Um ouviu o que o outro disse e foi inevitável que se olhassem e sorrissem em cumplicidade, ambos surpresos por encontrar alguém que também já tivesse ouvido falar de Raxacoricofallapatorius e, mais do que isso, que conseguisse pronunciar de maneira correta o nome daquele planeta.
Voltando-se à lousa para assistir ao professor calcular a aceleração da gravidade de Marte, Léo conclui que sabia duas coisas sobre o aluno novo: que se chamava Pedro, o nome pelo qual respondera durante a chamada, e que gostava de Doctor Who. Sobre o nome não havia muito o que pudesse ser deduzido, mas conhecer e gostar de Doctor Who eram fortes sinais de que poderia ser um cara legal.
Às duas aulas de física se seguiu uma entediante aula de geografia, e finalmente o sinal do intervalo tocou. Enquanto Léo procurava na mochila o dinheiro para o lanche, Pedro se aproximou, com um sorriso simpático no rosto.
– Poxa, nunca achei que seria tão fácil encontrar um whovian numa escola nova!
Léo riu e concordou.
– Pois é, cara, a população de whovians do colégio foi diminuída pela metade antes de as aulas voltarem, mas agora que você chegou, parece que voltamos ao índice normal!
Rindo, olhou para os trocados que tinha nas mãos e, sem saber muito bem como socializar, ofereceu-se a mostrar ao aluno novo onde ficava a cantina.
Passaram o intervalo inteiro discutindo, com brilho nos olhos e empolgação no coração, teorias sobre os últimos episódios da série, comparando Russell T. Davies a Steven Moffat, ponderando prós e contras de daleks e cybermen…
Depois de voltarem para a sala, enquanto o professor de história começava a fazer uma revisão sobre o Iluminismo, Léo pensou que talvez tivesse exagerado um pouco quando pensou que jamais faria amigos ou seria feliz de novo depois da partida de Alice.
Olhou para a quadra pela janela e viu a inspetora expulsar de lá alguns alunos do nono ano que tentaram esticar um pouco mais o recreio. Mas a chuva já tinha parado, e o sol começava, aos poucos, a secar as poças de água do chão.

Como já disse o Mark, if you’re not grateful, then it’s very easy to be an asshole

28 de janeiro de 2016 § Deixe um comentário

Um dia desses vi essa tirinha no 9gag, sobre como, se o que você realmente sente é gratidão, não faz o menor sentido pedir desculpas.
E aí veio minha viagem no tempo de volta aos tempos da oitava série e do ensino médio, proporcionada pelos muitos bilhetinhos que trocávamos na época, e que guardei por todos esses anos.
Eu sabia que eles ainda existiam no meio das muitas caixas cheias de bagunça que mantinha na casa dos meus pais, mas nesses cerca que 10 anos que se passaram entre os bilhetinhos terem sido escritos e esse último final de semana, eu nunca tinha realmente parado para lê-los com calma.
No começo foi engraçado. Lembrei de situações e pessoas que eu já nem lembrava mais que existiam, e era muito engraçado ver como levávamos algumas coisas muito pequenas muito a sério naquela época, acho que é aquele comportamento típico de adolescente de se achar muito maduro e experiente.
Mas aí, depois de ler alguns, comecei a ficar preocupada com o meu “eu” de 13 a 17 anos. Eu estava absolutamente perdida naquela época, não sabia como me encaixar no mundo e nem se realmente existia um lugar para mim nesse mundo.
E isso fez com que eu desenvolvesse comportamentos que iam desde me apaixonar perdidamente por um ator da novela das oito, como se ele realmente fosse uma pessoa do meu dia-a-dia, chegando ao absurdo de ser extremamente grossa e egoísta com vocês.
E isso doeu. Não pela parte de eu ser doida a ponto de deliberadamente ignorar a linha que separa a vida real da vida que se vê através das telas, dessa parte eu só consegui ter vergonha alheia de mim mesma e um pouquinho de dó.
Até aí, tudo bem.
Mas fiquei chocada em como eu fazia mil dramas desnecessários para vocês. Eu não perdia uma oportunidade dizer como alguns de vocês preferiam outras pessoas a mim, como não me davam atenção, como não me valorizavam…
Eu era absurdamente egoísta, ciumenta e insegura.
E era tão burra que não via o que estava escrito na frente dos meus olhos o tempo todo..
Eu era estranha, vivia no mundo da fantasia, muitas vezes era grossa e estúpida… E, mesmo assim, vocês me aceitaram. E me fizeram companhia, permitiram que eu entrasse nas suas vidas e deixaram que eu fosse quem eu quisesse ser, sem me julgar por isso.
E mesmo tendo, em alguns momentos, tratado vocês tão mal – de verdade, especialmente Laís e Artur, que foram os que apareceram nos bilhetinhos mais intensos, não sei como vocês ainda tem coragem de olhar na minha cara! -, hoje eu vejo que só recebi amor de vocês, e é por isso que, ao invés de pedir desculpas, eu quero, do fundo do meu coração, agradecer a cada um de vocês.
Eu realmente não sei o que seria de mim hoje se vocês não tivessem existido na minha vida, se não tivessem entrado na minha vida naquele momento.
Porque eu sinto que foram os amigos que eu não tive antes de conhecer vocês que me tornaram a pessoa que eu era quando nos conhecemos.
E hoje eu percebo o quanto vocês contribuíram para que eu me tornasse quem eu sou hoje. E eu meio que gosto da minha versão do presente, sabe?
Eu estava tão preocupada tentando achar o meu lugar no mundo em novelas, filmes e perfis fakes na internet, que não me dei conta de que, na verdade, eu já tinha o meu lugar no mundo bem ali, no “banquinho imaginário do Quarteto Fantástico”, no meio dos Raros…
Nos últimos tempos, alguns de vocês me disseram que o ensino médio no Lantagi foi a pior época da vida, que só o nosso grupinho salvava. E eu achava engraçado como eu não via as coisas desse jeito. Quer dizer, eu também sofri o “bullying” e a rejeição que vocês sofreram, mas para mim o ensino médio sempre foi uma época super legal porque tínhamos nosso grupo.
Pensar sobre essas coisas agora, dez anos depois, só me faz me sentir muito, muito, muito, muito grata por ter tido vocês no meu caminho.
Obrigada por me aceitarem do jeito que eu era, mesmo que eu fosse bastante doidinha.
Obrigada por continuarem a meu lado mesmo depois de eu ter criado os maiores dramas e dito coisas muito cruéis durante ataques de ciúme e egoísmo.
Obrigada por me ouvirem, por terem tido paciência comigo.
Principalmente, obrigada por me tratarem como uma pessoa com fim em si mesma (e não como uma fonte de respostas de lições ou como uma delivery girl pronta para comprar lanches na cantina para vocês).
E obrigada por me ensinarem a não aceitar nada menos do que isso.
Hoje em dia não tenho mais tanto contato com todos vocês como tinha antigamente. Por mais que o carinho que eu sinta ainda seja enorme, acho que todo mundo já tá grandinho para saber que aquele papo de “melhores amigos para sempre” nem sempre rola, e isso é normal, a vida leva a gente para direções diferentes, fazemos novos amigos…
Mas eu quero que vocês saibam o quanto foram importantes para mim, cada um do seu jeito.
Obrigada por terem sido os melhores amigos do mundo no momento em que eu mais precisava de amigos e nem sabia disso.

(Para, em ordem alfabética: Andressa, Artur, Felipe, Grace, Laís, Marília e Priscila.) ❤

About a girl

1 de fevereiro de 2015 § Deixe um comentário

No ano passado, no dia 28 de novembro, o pessoal do escritório fez uma mini festinha surpresa de aniversário para mim. Teria sido perfeita se o gerente da unidade não tivesse revelado o segredo enquanto meu coordenador me enrolava para dar tempo de todo mundo ir até a cozinha. Depois dos parabéns e do bolo cortado, o gerente comentou que costumam fazer as festinhas depois do aniversário, que é pra não levantar suspeitas, mas como todo mundo já tava sabendo disso, passariam a organizar as festinhas antes.

Pois bem, inspirada por esse pensamento e pelo fato de hoje ser domingo (o que eu acredito que me deixa com mais chances de que você realmente leia o novo post no meu blog, o que ainda não aconteceu com o que foi publicado duas semanas atrás…), resolvi escrever e postar isso hoje mesmo.

Amanhã, 02 de fevereiro de 2015, você vai completar 25 anos de vida, Marília. E isso é tempo pra caramba, pelo que eu posso dizer do alto dos meus praticamente recém completados 24 anos. E é curioso que essa data praticamente se confunda com o aniversário de 10 anos da nossa amizade, porque foi no início do ano letivo de 2005 que você começou a estudar no Lantagi e, automaticamente, nos conhecemos.

E muita coisa aconteceu nesses 10 anos. Compartilhamos fofocas, sonhos, frustrações amorosas… Moramos juntas por um ano, temos acompanhado, às vezes de muito perto, às vezes de longe, o processo de amadurecimento e “adultescimento” uma da outra, sempre presentes nos grandes momentos, como nossas formaturas e seu casamento…

Eu não te conheço desde a infância e não brincávamos de Meninas Superpoderosas juntas. Também não sou casada com nenhum amigo de Canoinhas do Dyan e nem temos colares de relógio combinando para selar nossa amizade. Teve muita coisa que aconteceu na sua vida antes de nos conhecermos, e muita coisa que tem acontecido que não posso presenciar por causa da distância. Não posso te assar um bolo ou te dar um abraço no seu aniversário. Não posso fazer um painel legal para você pendurar na sala da sua casa. Mas eu posso tirar um pouquinho do meu tempo para sentar e fazer para você o que eu (acho que) sei fazer de melhor, que é tentar escrever alguma coisa legal. Não é grande coisa, é verdade, mas pelo menos é alguma coisa.

E eu quero desejar que você tenha uma vida muito longa e feliz. Que continue fazendo o que gosta e com essa vontade de se aperfeiçoar na profissão. Que seus cursos de pós tenham as turmas completas e que sejam aquilo que você espera, que façam seu dinheiro valer a pena. Que continue cuidando do seu corpo (só cuidado com os excessos, ok?), que continue antenada nas tendências. Que você continue economizando para realizar seus sonhos. Que viaje muito, conheça mais lugares incríveis e tenha mais histórias para contar. Que continue me indicando filmes, séries e bandas legais, e também que continue dando uma chance para as séries, filmes e músicas que eu indico. E livros. Que você leia bastante ficção e que possamos compartilhar recomendações literárias também. Que a gente possa continuar dando aquele apoio moral uma à outra durante tardes de tédio/preguiça/sono no trabalho. Que a gente continue compartilhando artigos sobre a vida adulta, a vida a dois, a vida dos gatos. Que nunca nos faltem conselhos sobre cachos, maquiagem, atividades físicas. Que a gente corra a São Silvestre desse ano (esse depende de mim, ok, vou me esforçar!)! Que você continue crescendo e sendo essa mulher maravilhosa que eu me orgulho em dizer que é minha melhor amiga. Que continue tendo tempo para os amigos e para a família, porque no fim dia é só isso que realmente importa. E que entenda que você é uma pessoa incrível e interessante, e que tudo aquilo que os outros pensam sobre você nunca vai chegar perto do que você realmente é, especialmente aos olhos das pessoas que realmente te amam.

Feliz aniversário, feliz 10 anos de amizade, e que isso dure por mais muitos e muitos anos!
Amo você!

P.S.: Vê se arranja logo um filho porque faço questão que a sua cria seja daminha/pajem do meu casamento, ok? ❤

Things’ll be brighter

18 de janeiro de 2015 § Deixe um comentário

      Já passava das três da manhã quando Bia saiu de baixo das cobertas e foi para o seu quarto. Na TV, um filme sobre um casal se esforçando para engravidar (espera, aquele não é o Dr. House?) lhe fez companhia até que adormecesse. No outro quarto da casa seu pai encarava o teto e apertava os dedos em silêncio, exausto demais para conseguir voltar a chorar. Pelo menos não precisava mais fingir que tinha caído no sono.

      Miguel sempre foi uma pessoa reservada e tímida, na defensiva mesmo, do tipo que precisa de muito tempo de convivência para conseguir se sentir à vontade na presença de alguém. A única exceção era a filha e tinha sido assim desde a primeira vez em que a viu, doze anos atrás, quando foi até um abrigo levar os presentes de Natal arrecadados pela empresa onde trabalhava. A risada aguda e soluçada da garotinha descabelada que corria de um lado para outro encantou seu coração. Ele nunca tinha pensado em ter filhos, mas ao ver o sorriso de dentinhos tortos de Bia não pode fazer nada além de se render: ela era sua filha, sempre tinha sido e sempre seria.

      Depois de achar, com a ajuda da lanterna do celular, quase dez rostos de celebridades na mancha de infiltração que ficava num dos cantos do teto, Miguel chegou à conclusão de que enlouqueceria se ficasse mais tempo naquela casa, naquele quarto cheio de lembranças. Acendeu a luminária ao lado da cama e foi até o banheiro. Suas olheiras estavam bem mais marcadas do que de costume, mas estava tão focado em abrir o armarinho de remédios que não teve tempo de encontrar seu reflexo no espelho. Os frascos e cartelas estavam todos ali e não demorou muito até que achasse o que procurava.

      Quando Miguel contou a Bia sobre a adoção, recebeu um olhar desconfiado ao invés do abraço que esperava. Ela já tinha se conformado com a ideia de estar ficando velha demais para ser escolhida por alguma família e, apesar de gostar muito daquele rapaz que, durante um ano inteiro, não passou uma única semana sem visitá-la, aquilo parecia bom demais para ser verdade. Mesmo depois de devidamente instalada na casa do novo pai, ainda foram precisos alguns meses até a garota deixar de guardar suas roupinhas dentro da mochila que trouxe do orfanato. O agradecimento por ter ganhado o melhor pai do mundo, por outro lado, jamais deixou de fazer parte de suas orações.

      O comprimido de Neosaldina desceu raspando, sem água mesmo. A cabeça ainda latejava. Foi até o quarto da filha e a viu dormindo com a televisão ligada, mas, dessa vez, apenas dessa vez, isso não o deixou irritado. Miguel hesitou por um momento. Ela já tinha passado a noite em claro ao seu lado, sabia que precisava descansar. Ainda assim, precisava tanto dela… Aproximou-se da cama e lhe alisou os cabelos, chamando seu nome em voz baixa. Assistiu em silêncio ela esfregar os olhos. Quando se certificou de que ela havia despertado por completo, disse-lhe que precisava sair para ver o mar, e que precisava que ela fosse junto.

      A primeira vez que Bia foi à praia foi pouco tempo depois de se mudar para a casa de Miguel, quando repetiu de ano na escola. Não havia nada de surpreendente nisso, afinal ela tinha trocado, no meio do ano letivo, uma escola pública ruim por uma escola particular bastante exigente. Miguel tinha sido alertado pelos novos professores, no momento da matrícula, que isso poderia acontecer, mas resolveu não contar à filha para não desmotivá-la. Porém, quando entrou no quarto e a viu chorando, abraçada ao travesseiro, percebeu que a tentativa de poupá-la de aborrecimentos tinha sido bastante frustrada. Ele não tinha ideia do que dizer à filha, então decidiu levá-la para fazer o que ele sempre fazia quando se sentia mal: ver o mar. Pegaram a estrada no final da tarde e, graças ao horário de verão, chegaram ao litoral a tempo de ver o pôr do sol. Naquele dia, sentada na areia e tomando um picolé de morango, Bia aprendeu a primeira grande lição de vida de seu pai: nenhum sofrimento era imune à imensidão do céu e do mar.

      Ela soube, pelo olhar que viu no rosto do pai, que era uma emergência, quase questão de vida ou morte. Era madrugada de uma quarta-feira e chovia muito. Num dia normal, ela teria pedido ao pai que se acalmasse, feito um chá e explicado que ele tinha prazos a cumprir no trabalho e ela provas finais na faculdade, então o melhor seria esperar até o final de semana, afinal o oceano não mudaria de lugar em três dias. Mas não era um dia normal, ela nunca o vira naquele estado. E, por isso, ela só assentiu e se levantou. Beijou o rosto de Miguel e ainda fez dois cafés para que tomassem antes de sair. Bia assumiu a direção sem nenhuma objeção por parte do pai, o que só comprovou o fato de se tratar de uma situação absolutamente extraordinária. Nenhum deles sabia o que falar durante a viagem, e de fato não havia nada que pudesse ser dito. Miguel colocou para tocar um dos cds que ela deixava no carro, uma coletânea de músicas do Queen, fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás. Na estrada já não chovia e o sol ia aos poucos aparecendo, então Bia não teve nenhuma dificuldade no caminho. Chegou a formular uma lista de mais de quinze motivos pelos quais Caio era um idiota por ter feito o que fez, mas no fundo sabia que não era daquilo que o pai precisava. O rádio tocava “Killer Queen” e ela só conseguia se culpar por não ter um jeito de fazer com que a dor que ele estava sentindo parasse.

      Miguel sempre conversou muito com a filha, sobre tudo. Até questões sobre o primeiro sutiã e a primeira menstruação ele tirou de letra. Só tinha dificuldade em falar de seus relacionamentos amorosos para a menina. Ele tinha muito medo de que a filha se apegasse a alguém que não fosse fazer parte de suas vidas por muito tempo. Paixões arrebatadoras nunca foram o seu forte e, justamente por isso, era muito difícil que ele passasse mais de dois meses com o mesmo rapaz. Em mais de dez anos morando juntos, Bia só chegou a conhecer dois de seus namorados. O último foi Caio. Meia idade, já um pouco grisalho, muito inteligente e crítico na seção de cultura do jornal em que Miguel escrevia sobre economia. Ficaram juntos por três anos. Teriam ficado juntos por muito mais tempo, se Miguel não tivesse descoberto que Caio mantinha um caso com um estagiário do jornal.

      Miguel só abriu os olhos de novo quando Bia parou o carro. Ela sorriu para ele e os dois foram até a areia. Sentaram-se, de pijama mesmo, a poucos metros da água. Ele apoiou a cabeça no ombro da filha e começou a chorar. Ela afagou seus cabelos em silêncio, pensando em como costumava imaginar o dia, no futuro, em que teria que cuidar do pai velhinho. Não esperava que fosse vê-lo tão vulnerável e frágil tão cedo. Se pudesse, teria trocado de papel com ele sem pensar duas vezes. Ela já tinha sofrido suas desilusões amorosas, já tinham deixado seu coração tão partido que achou que nunca mais fosse se sentir bem de novo. Mas a impotência de ver a pessoa que sempre foi sua referência de força e determinação sofrendo daquele jeito, sem poder fazer nada para ajudar, era mil vezes pior do que qualquer término de namoro jamais seria. Queria deixar claro que estaria ali, sempre ao lado dele, para protegê-lo do mesmo jeito que ele fez todas as vezes em que alguém tentou diminuí-la. Queria poder pegá-lo no colo, cantar num inglês desafinado alguma música brega dos anos 70 ou 80 que falasse sobre dias melhores, como ele tinha feito tantas vezes por ela. Queria não ter aquele nó na garganta, aquelas lágrimas escapando dos olhos. Queria poder fazer mais, mas no momento o melhor que conseguiu foi abraçá-lo com força. Por instinto, queria que ele pudesse consolá-la. Mas não era assim que as coisas funcionariam, não naquele momento.
Miguel apertou a filha o máximo que pode. Em sua cabeça, que ainda latejava, perguntava-se por quanto tempo aquilo doeria. Não fazia nem 24 horas desde que todo aquele inferno começara, desde que confrontara Caio por causa das mensagens de celular que tinha descoberto, desde que gritara para que ele sumisse de sua vida. Sentia o peito queimar por dentro e o corpo afundar num abismo. Mas Bia estava lá. E era sua missão ser o porto seguro dela. Durante muito tempo, esforçou-se para ser inabalável, pronto para enfrentar o que fosse necessário para garantir a felicidade da filha. Evitara, durante anos, que ela o visse triste, chateado. Uma parte dele se sentia fracassada por não ter aguentado a barra, por ter se mostrado fraco. Mas tudo tinha mudado. Ela já era uma mulher feita, agora. Não precisava mais da sua ajuda para abrir vidros de azeitona ou lidar com a crueldade do mundo, tinha aprendido a se virar sozinha. E agora era como se os papéis tivessem se invertido. Ele sabia que, se Bia não estivesse ao seu lado, teria feito alguma besteira contra Caio ou contra si mesmo. Ela tinha se tornado o seu porto seguro, era ela quem estava tomando conta dele. E, por mais que quisesse se sentir incomodado com essa mudança na ordem das coisas, no fundo só conseguia se sentir grato. Sabia que ainda sofreria muito, que passaria muitas noites em claro, que choraria o suficiente para encher três oceanos. Ainda amava Caio e não seria fácil superar a decepção, a dor. Mas, enquanto tivesse o colo da filha, sabia que tudo ficaria bem de novo, mais cedo ou mais tarde.

O outro gap

11 de janeiro de 2015 § 1 comentário

Volta o cão arrependido
Com suas orelhas tão fartas
Com seu osso roído
E com o rabo entre as patas
11 meses é muito tempo.
É mais do que uma gestação humana. E foi o tempo que fiquei longe desse blog. Shame on me, eu sei.

Ao que parece, subestimei a minha capacidade de arranjar desculpas para não escrever.

Bom, sejamos justos: eu até escrevi algumas coisas de que gostei em 2014. Era parte de outro projeto que nasceu do meu desespero de encarar o mundo adulto. Eu tinha acabado de começar no meu primeiro emprego (emprego mesmo, full time, não estágio) e não era nada do que eu tinha sonhado para mim. Aí, num desses grupos de facebook da vida, surgiu a oportunidade de  criar uma história. Nunca fui boa em histórias longas, mas inventar aqueles personagens foi tão fácil, pensar nas vidas deles tão divertido… Até que apareceu uma pedra no caminho, que no caso foi um rapaz que trabalhava comigo ter deixado o emprego. Sobramos só eu e o coordenador da equipe, e aí realmente não tive mais tempo de escrever no trabalho – eu tenho um certo problema com concentração e acaba sendo mais fácil escrever num local onde eu deveria estar prestando atenção em outra coisa.

Então, depois de alguns meses sem apresentar nada novo ao pequeno público de desconhecidos que consegui, senti como se não fizesse mais sentido continuar. Não a continuar publicando, pelo menos. De qualquer forma, os esboços e rascunhos estão guardados, e quem sabe um dia não volto àquela história que tanto me aqueceu e me ajudou quando eu mais precisei fazer alguma coisa que desse orgulho a mim mesma…

Bom, continuo no mesmo trabalho, mexendo com uma área que nunca me atraiu durante a faculdade e que tem muito pouco em comum com a que realmente ocupa o meu coração. Apesar disso, dei os primeiros passos do caminho que planejei para minha carreira e, se tudo der certo, daqui a 11 meses minha vida estará um pouco mais de acordo com os sonhos que tenho para mim.

Quando criei esse blog, eu estava perdida. Precisava arranjar um emprego e, naquele momento, essa era minha única preocupação. O que me tirava o sono era a pergunta “o que vou fazer da minha vida?” martelando na minha cabeça. Agora, que estou trabalhando e aguardando resultados de um possível novo emprego, o que me deixa inquieta é a espera. Não gosto do lugar em que minha vida profissional está, e isso reflete em todas as outras coisas, claro. Ainda não consigo me manter totalmente sozinha, ainda divido o apartamento com meu irmão… Eu tenho pressa de resolver essas coisas, de ter o meu canto do meu jeito, de poder fazer as coisas que quero na hora e do jeito que achar melhor… Tenho pressa, mas escolhi ter paciência de deixar as coisas como estão por mais algum tempo, alguns meses, até que minhas condições melhorem e eu possa fazer todas as mudanças que pretendo fazer com um pouco mais de calma. Afinal, não é como se tudo estivesse insuportável. Só ainda não é o que eu quis e quero e isso me frustra um pouco.Me incomoda um pouco ficar falando dessas coisas, porque parece que eu só reclamo e não faço nada para mudar a situação. Eu poderia chutar o pau da barraca. Mas isso não sou eu. Tomar decisões sérias por impulso não combina comigo. Não espere que eu me rebele contra tudo. Plantei minhas sementes e agora só me resta torcer para que tenha feito tudo certo e aguardar que cheguem os frutos. Tenho meu plano A e um plano B. Assumir uma postura impulsiva e tentar fazer com as coisas mudem à força, na minha cabeça, só dificultaria tudo.

Um dia desses vi no tumblr uma frase atribuída a uma atriz de quem não me lembro o nome. Ela dizia, mais ou menos, que a fase da vida entre os 18 e os 28 anos é a mais difícil psicologicamente, porque é quando você percebe que tem que se virar, a juventude não pode ser mais usada como desculpa e você precisa se tornar um adulto, só que você ainda não é um, não de verdade. Esse é o meu ponto, eu acho. Um monte de coisas mudou na minha vida nos últimos 2, 3 anos. Estou em algum ponto entre a pessoa que eu era e a pessoa que quero ser. Claro que estar nesse ponto é melhor do que não estar em lugar nenhum. Mas sinto falta do conforto de antes, de como tudo tinha sua lógica, sua rotina, sua previsibilidade. Tenho a impressão de que tudo que tenho como certo pode mudar de novo, a qualquer momento. E isso dá muito medo.

Meu Deus, como é difícil e confuso crescer!

Seja como for, um dos meios de suportar minha adulthood é me comprometer com esse blog, com esse projeto, comigo mesma. Botar a mão na massa e cuidar um pouco melhor dos velhos sonhos, sem esquecer dos novos, claro. E aceitar que meu processo de virar adulta também é um gap a ser fechado. E que registrar aqui minhas inquietações de proto-adulta é tão importante nisso quanto dividir minhas experiências como proto-escritora.

Correndo atrás

8 de fevereiro de 2014 § Deixe um comentário

Às vezes eu escuto algumas músicas e penso “nossa, isso daria uma boa história”.
Quando ouvi Ruby, don’t take your love to town, do Kenny Rodgers (que, na verdade, conheci pela versão do The Killers), fiquei pensando o que faria a Ruby ir embora.
Não ficou tão bom quanto eu gostaria, mas é o que tem pra hoje.

Querido,

Eu sei bem que, a essa hora, você deve estar se perguntando o que aconteceu, por que eu fiz isso com você. Eu, por outro lado, provavelmente já estarei a caminho de algum lugar onde possa recomeçar a minha vida.
Os últimos tempos não foram fáceis para mim.
Desde que você me deixou, há três anos, para, nas suas próprias palavras, cumprir seu dever na defesa da democracia e da liberdade, não houve uma noite sequer em que eu tenha conseguido simplesmente fechar meus olhos e adormecer.
No começo, enquanto você ainda estava lá, no front, eu passava horas chorando na cama, rogando a Deus para que te protegesse e te trouxesse de volta para mim. Rezava para que a guerra não te mudasse, para que você continuasse sendo o rapaz cheio de sonhos que sempre foi e para que mantivesse aquela doçura no olhar que me conquistou logo na primeira vez em que nos vimos.
Então chegou a notícia de que você voltaria para casa. Chegou a notícia de que você havia sido ferido e não poderia mais lutar. Eu não sabia ao certo o que sentir e continuei chorando muito todas as noites até cair no sono. Eu estava triste demais por saber que te machucaram. A imagem de você, que sempre foi um homem forte, ferido tão gravemente a ponto de ser mandado de volta pelo Exército partia meu coração em tantos pedaços… Mas você estava vivo! Estava vivo e estava voltando para mim! E isso me enchia de alegria. No dia do nosso casamento, há tanto tempo, eu achei que nada poderia me fazer mais feliz do que ouvir o seu “sim” no altar. Mas a alegria de saber que você estava vivo e que em breve estaria em meus braços… Era como se novamente meu coração se partisse, mas desta vez porque não conseguiu suportar tamanha felicidade.
E você chegou. Confesso que te ver numa cadeira de rodas não foi um grande choque para mim. Eu tinha me preparado para isso. Tinha imaginado todo o tipo de coisa, de uma perna irremediavelmente quebrada a todos os membros amputados. Ver que você estava inteiro, mesmo que sem conseguir mover metade do corpo, foi um grande alívio para mim.
Não consigo descrever como fiquei feliz quando a campainha tocou naquele dia. Talvez você tenha percebido isso, afinal eu não conseguia parar de rir, de chorar, de tremer. A sua volta para casa, vivo, foi o melhor presente que eu já recebi na vida, por favor, acredite nisso.
Mas você não voltou o mesmo homem. E não falo apenas por causa das tantas marcas no seu corpo e das tantas vezes em que te vi calado, com o olhar perdido, sozinho em algum canto da casa. Eu esperava por isso. Eu te conhecia. Sabia que a guerra seria uma experiência forte demais para você. Sabia que, apesar da sua empolgação quando recebeu a convocação, tirar vidas de outras pessoas, de jovens exatamente como você, não seria uma tarefa fácil. Sempre soube que você voltaria um outro homem.
Eu só não sabia que você se tornaria o que se tornou. Nos últimos meses, a convivência na nossa casa foi insuportável.
Faz, literalmente, anos que não vejo um sorriso sincero seu, não ouço uma palavra gentil, não recebo um carinho. Às vezes penso que, por falta de munição, usaram sua alma para carregar armas. Essa guerra, além do movimento das suas pernas, tirou toda a sua vontade de viver. Ou tirou sua vontade de demonstrar que quer viver, o que para mim é a mesma coisa.
Sua amargura me sufoca. E me sufoca ainda mais saber que você não quer a minha ajuda. Perdi as contas das vezes em que tentei conversar sobre isso com você e não recebi nada além de meia dúzia de palavras agressivas em respostas evasivas. Foram tantas noites em que acordei por causa dos seus gritos… Mas em nenhuma delas você me deixou te abraçar. Você não me deu a chance de tentar acalmar seus pesadelos.
E eu cansei de tudo isso. Me olho no espelho e vejo que aparento ter pelo menos uns dez anos a mais. Desde que você voltou, não faço nada além de tentar descobrir o que eu devo fazer para te deixar feliz. Não consegui encontrar nenhuma solução. No fim das contas, além de não conseguir te fazer feliz, me tornei eu mesma infeliz também.
E é para tentar por um fim à minha infelicidade – a sua, ao que me consta, é crônica e não tem cura – que eu preciso ir embora.
Sei de minhas obrigações como esposa. Você faz questão de me lembrar delas todos os dias. Mas não posso continuar fazendo isso comigo mesma. Não posso continuar servindo um marido que me trata como sua propriedade e que não é, nem de longe, o homem pelo qual me apaixonei anos atrás. Foi para aquele homem que fiz meus votos.
Prometi ficar ao lado do homem que eu amava na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte nos separasse. E foi justamente a morte quem nos separou. O homem que eu amava morreu em combate.
Eu não posso, não quero!, ser mais uma vítima dessa guerra maldita. Você sempre quis ser um mártir. Eu, não. Tudo o que eu sempre sonhei foi ser feliz, e só. E feliz é tudo o que eu não sou na sua companhia.
Peço que você não fique com raiva de mim. Eu preciso ir embora assim, me despedindo por meio de uma carta, porque não aguentaria ouvir você me pedindo para ficar. Eu sou fraca, você sabe disso. Mas não vou ficar com você por pena, você merece mais do que isso.
Esse é o único jeito disso tudo dar certo.
Daqui a algum tempo, quando a poeira baixar, eu volto a entrar em contato com você. Por enquanto, tudo o que eu mais quero é distância de todo esse sofrimento.
Acredite em mim, dói muito ter que fazer isso. Mas é preciso. Agora, enquanto escrevo essa carta, já me sinto muito mais leve e livre.
Você vai ficar bem, eu sei disso. E eu também ficarei, eu prometo.
Fica com Deus.